O
termo
BDS
-
Boycott,
Divestment
and Sanctions
-
é conhecido já
há
algum
tempo daqueles que acompanham mais de perto a questão
palestina.
Sob argumento semelhante ao dos manifestantes anti-Apartheid
na
África
do
Sul, a campanha propõe
combater
o status
quo
racista
e colonialista de Israel através
de
boicotes, desinvestimento e sanções
internacionais
a
produtos, entidades e organizações israelenses,
principalmente aqueles ligados aos Settlements.
Um dos exemplos mais ilustrativos desta politica é - para situar a
questão em um contexto próximo do leitor - o boicote acadêmico que
universidades do mundo iniciam contra universidades israelenses.
O exemplo talvez mais representativo do boicote é o dos estudantes e
docentes da Universidade
de Joanesburgo,
na África do Sul. Nesta última semana duas ações seguindo estas
premissas ganharam atenção internacional: a brilhante
interrupção
da
Israel
Philarmonic Orchestra
(uma
vez The Palestine Orchestra, que durante sua existência tocou
repetidas vezes para as tropas israelenses durantes as seguidas
guerras com os vizinhos árabes no prestigioso Albert Hall durante o
BBC Proms e o
rompimento
de relações diplomáticas, militares e econômicas do governo turco
com o governo israelense,
após a recusa deste em se desculpar pelo assassinato de oito
militantes turcos em águas
internacionais
na última
Flotilha
de
libertação à
Gaza.
O boicote de consumo também tem sido eficaz, e de acordo com a
organização,
mais de um quinto de empresas israelenses já
declararam
prejuízo
devido
ao boicote. Aproveito para convidar o leitor a participar do boicote
de maneira simples: não
comprar
produtos que tenham o código
de
barras iniciado por 729.
Com
toda esta campanha e pressão internacional fiquei ingenuamente
surpreso ao notar que as lojinhas e mercados palestinos aqui na
Cisjordânia estão inundados por produtos não apenas israelenses,
mas produzidos em Settlements. Ora, se o mundo se mobiliza aos poucos
para bloquear os produtos como é
que
os próprios palestinos não participam do boicote? Para ilustrar o
absurdo dos produtos de Settlements, imaginem que os EUA decidem
invadir e ocupar o território brasileiro. Depois de algum tempo de
negociação, nós brasileiros decidimos aceitar que os EUA mantenham
75% do nosso território. Ainda sim, os estadunidenses ocupam -
“ilegalmente”, por mais absurdo que o termo soe neste contexto -
com casas e fábricas o resto dos 25% e como se não bastasse, usam o
mercado consumidor brasileiro para vender estes produtos. Esta é
a
realidade da vida econômica daqui
e é
tão
absurda que mesmo organizações pró-Israel propõem
o boicote a produtos de Settlements - embora não, evidentemente, de
outros produtos israelenses. Por trás dos argumentos israelenses
sobre defesa e segurança se esconde a verdade chocante: a ocupação
é
sobretudo
lucrativa. Com a seguida destruição da indústria palestina e sem
controlar as próprias fronteiras – impedindo alternativas aos
produtos israelenses - a Cisjordânia, para não falar de Gaza,
tornou-se um mercado de 2,5 Milhões de consumidores e, devido a taxa
de desemprego de mais 50%, de mão de obra baratíssima para a indústria israelense. A economia palestina, devido à ocupação e a maus tratados internacionais, é dependente e subordinada à economia israelense. O desenvolvimento econômico que permitiria às famílias daqui sair da situação de miséria e de dependência da caridade internacional só será possível com o fim mesmo da ocupação e da independência do estado e da economia palestinas.
Anteontem,
em visita ao coração pulsante da vida política e econômica da
Palestina ocupada, Ramallah,
tivemos a oportunidade de conversar com funcionários da Autoridade
Palestina e soubemos mais sobre a campanha de boicote aos produtos
advindos de Settlements. A campanha coincidentemente também se chama
Karama, dignidade em árabe. Vale a pena passar pelo site para
entender sua motivação e para entender a nova lei que proíbe a venda
deste produtos em território palestino:
A reação israelense à campanha foi, não surpreendentemente, a de chamar a campanha de “terrorismo
econômico” e a reação “democrática” foi a lei que chocou a
comunidade internacional e causou polemica entre os próprios israelenses: de acordo com a “Lei de Prevenção de Danos ao Estado de Israel através de Boicotes”, aprovada pelo Parlamento Israelense em 11 de Julho de 2011, qualquer
pessoa, instituição ou país que promover boicotes contra empresas
israelenses poderá ser processada pela empresa sem que esta tenha de
comprovar perdas. Democracia e liberdade de expressão não são preocupações do governo Netanyahu. Se o boicote, como ferramenta pacifica de combate à ocupação, não é considerada legitima, o que resta aos palestino para reagir?
PS:
Vou tender a dividir as postagens por temas, por isso deixo para a
próxima postagem a descrição de Ramallah e do encontro muito
instrutivo que tivemos com algumas autoridades palestinas sobre a
Assembleia das Nações Unidas do dia 21 que deverá tratar do
reconhecimento da Palestina como estado. Nesta reportagem
da
Al Jazeera há um bom resumo do processo, com opiniões contra e a
favor.
PPS:
Na noite de ontem nos surpreendemos com crianças e mulheres na rua de
onde moro chorando pelas calcadas. Fomos explicados que o pai da família, de apenas 38 anos, morreu ontem de uma infecção simples no pulmão. Sem o equipamento necessário para ser atendido em Belém,
fez-se necessária sua transferência para Jerusalém. Tendo a ambulância ficado parada no check-point sem ter autorização para seguir, morreu o pai de 8 filhos. O ocorrido, infelizmente, não é exceção. Aqui uma lista
de
mortes semelhantes entre 2000 e 2006. Aqui,
um relatório da respeitada ONG Palestine Monitor, com números e
fatos sobre a consequência do bloqueio nos atendimentos médicos a
palestinos. Para exemplificar, entre 2000 e 2006 pelo menos 69
mulheres deram à luz em check-points, sem as condições mínimas de
higiene ou segurança. Dos 69 casos, 35 recém-nascidos e 5 mães morreram.
PPS: Atualizo a postagem já mais de dois meses depois da primeira publicação. Gostaria de inserir este vídeo que tem relação com o tema, mas visto do lado israelense. De acordo com os Acordos de Oslo produtos israelenses podem ser vendidos em território palestino, mas não o contrário. Este vídeo mostra uma das reações possíveis quando isto acontece. Espero que a descrição do blog sobre a vida comercial no campo e na Palestina, inundada por todos os lados de produtos israelenses, legais e ilegáis, dêem uma dimensão do tamanho da injustiça e da desigualdade nas relações. O vídeo, entitulado "O que surge da mistura de um turista inglês com os Acordos de Oslo", mostra a reação de um supermercado ao encontrar uma caixinha de leite "árabe" entre seus produtos.
PPS: Atualizo a postagem já mais de dois meses depois da primeira publicação. Gostaria de inserir este vídeo que tem relação com o tema, mas visto do lado israelense. De acordo com os Acordos de Oslo produtos israelenses podem ser vendidos em território palestino, mas não o contrário. Este vídeo mostra uma das reações possíveis quando isto acontece. Espero que a descrição do blog sobre a vida comercial no campo e na Palestina, inundada por todos os lados de produtos israelenses, legais e ilegáis, dêem uma dimensão do tamanho da injustiça e da desigualdade nas relações. O vídeo, entitulado "O que surge da mistura de um turista inglês com os Acordos de Oslo", mostra a reação de um supermercado ao encontrar uma caixinha de leite "árabe" entre seus produtos.
Bora tommy! Conta mais!
ResponderExcluirvolunteer of the month! yuuu
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